indo para ella chegou donde estava a pedra. Tanto que chegou a ella e a viu, a tomou e a guardou; até que vindo o dia a viu melhor, e parecendo-lhe de grande preço, se foi ao senhor Embaixador, com quem elle vinha, e mostrando-lh’a lh’a deu, e disse donde a achára; e o senhor, vista a pedra, a estimou em muito, e mandou logo chamar o homem em cuja casa se achára, e perguntando-lhe donde a ouvera e de que lhe servia, e o bom do homem lhe disse:
— Senhor, não serve de nada; se vossa mercê a quer, tome-a, que eu folgarei muito d’isso, que um real me custou.
E contou-lhe como e de que maneira, assi como a historia atégora o contou; do qual o fidalgo se maravilhou, e teve para si, que pelo muito que vale o real bem ganhado, permittiu Deus que lhe deparasse aquella pedra áquelle homem. E o Embaixador metteu a mão em uma boeta, em que levava dinheiro para sua despeza, e tomando um punhado de moedas de ouro em que averia duzentos mil réis lhe deu, dizendo:
— Irmão, esta pedra já que m’a dais, eu a quero.
O pobre homem não queria tanto dinheiro, e a importunação do nobre fidalgo tomou, e se foi para sua casa com muita alegria dar conta a sua mulher; comprou herdades e chegou a ser chamado o rico homem, e elle o era.
(Trancoso, Contos e Historias, Parte i, n.º xiii.)
Um nobre cavalleiro, virtuoso e muito rico, o qual chegando por velhice á ultima hora da vida, chamou ante si um só filho que tinha:
— Rogo-te que pera minha consolação, antes que