morra me promettas de fazer o que te deixar por conselho; que segredo que revelar honra ou vida não no descubras a ninguem, porque se tu não guardas o que tanto te releva a ti proprio, como esperas que t’o guardará outra pessoa alguma? e n’isto de segredo te guarda principalmente de tua mulher, porque todas em geral são mudaveis, e por pouca cousa que lhe faças se póde enojar contra ti e descobrir-te o segredo.
Isto tudo o filho ouviu e entendeu, e aceitou de cumprir como o pay lhe pedia, promettendo-lhe sem falta. Mas para vêr que damno lhe podia vir de descobrir o segredo, logo propoz de descobrir algum que fosse fingido haver feito que não fizesse, para que se se descobrisse não fosse verdade, e podesse mostrar o contrario.
Andando um dia o Duque á caça, trasmontou-se-lhe um nebri que elle prezava muito, e tornando sem elle á cidade, fez apregoar que daria grande achado a quem lh’o desse. E porque nem assi appareceu, tornou a mandar pregoar que quem o encobrisse perdesse a fazenda e morresse morte natural; e a quem lh’o descobrisse e fizesse vir á mão do Duque, perdoava qualquer delicto que tivesse, ainda que fosse de morte. E nem assi o nebri appareceu, de que toda a terra estava espantada; e não parecia, porque cahiu dentro da quinta d’este mancebo, que estava perto da cidade, a qual, como era muito grande e elle achasse ali muitas aves, andou muitos dias sem saber d’elle, até que o mancebo foi um dia á quinta; andando passeando dentro, achou o nebri, e como sabia muito d’aquelle mister, o chamou e fez vir a si, e o levou a uma camara das casas da quinta, em que avia todo apparelho para a criação d’aquellas aves, e que não podesse fugir, deixando a bom recado. Guardou comsigo a chave da casa, que era muito grande, e elle e outros passaros que ali estavam tinham bem de que se manter, porque a casa era artificialmente para isso, e estava bem provida do necessario. E deixando o nebri a recadado,