primeiro teve a differença; e assi cada um per sua ordem.
Pelo qual o irmão foi o primeiro, que lhe pediu as casas fundando-se nas razões já ditas; ao qual respondeu o pobre com a verdade do caso como passava. O Regedor disse:
— Eu mando que este fique com as casas como estão julgadas, e que vós que sabeis que lh'as pedis mal e com malicia insistis n'isso, lhe pagueis a elle duzentos mil reis.
E logo foi por elles preso, e não foi solto até pagar. Concluido este veiu o vendeiro, dizendo que lhe fizera mover a molher; ao qual respondeu o pobre com a verdade, contando como passára. E o Regedor visto o caso julgou ao pobre por sem culpa, e que o vendeiro pela affronta em que o puzera e em emenda do damno que lhe fez em sua casa dando n'elle, lhe pagasse cincoenta cruzados. E logo veiu o da azemela, pedindo que maliciosamente pegára no rabo d'aquella alimaria e lh'o arrancára; o qual era muito defeito e grande fealdade, que lhe mandasse pagar o que fosse avaliado. Ao que foi respondido pelo pobre, dizendo que o ajudára a sahir do atoleiro; ouvido pelo Regedor e vista a ingratidão foi julgado por elle que a azemela ficasse em poder do pobre tanto tempo até que lhe nascesse o rabo, e se servisse d'ella, e se o dono apellasse d'isso pagasse cincoenta cruzados. Isto concluido, os filhos do velho que estava morto, alcançaram as vozes pedindo justiça.
— Este matou; o matador morra por isso que assi é justo.
O Regedor quiz saber o caso meudamente, e ouviu ao pobre como e porque se lançára do muro abaixo. O que tudo visto mandou que aquelle homem accusado fosse assentado na cadeira em que estava o velho quando morreu, e o accusador se subisse ao muro e se lançasse d'elle abaixo como o outro fez e assi cahisse sobre elle e