polytheistas, eram explicados por communicações historicas forçosamente recentes. São enormes as relações dos contos e crenças do povo portuguez com o folk-lore da Russia; este facto toma uma verdadeira importancia quando se vê que se generalisa ao occidente europeu. Diz Gubernatis: «Tem causado certa impressão a grande parecença dos contos sicilianos com uma dada serie de contos russos; mas todo o pasmo deve cessar, se se pensar simplesmente que a proveniencia de um grande numero de contos russos e sicilianos é commum, isto é, essencialmente byzantina.»[1] A causa da unidade é mais remota; a Russia foi povoada por uma enorme camada de elemento mongolico, e o elemento lybico e iberico do Mediterraneo, vindos da Asia meridional, pertenceu a essa mesma raça. Assim se determina esse fundo ethnico commum, pelo qual se comprehende a identidade das tradições da Russia com as da Sicilia e Portugal, phenomeno tambem notado por Max Müller entre as tradições dos Zulus com as da Europa, bem como das awáricas e kalmucas, e especialmente das tradições chinezas com a Europa occidental.[2] Nos estudos da Novellistica ainda se não tinha determinado este fundo proto-historico da civilisação humana, attribuindo-se estes documentos similares de tradições importantes á phrase vaga — identidade dos processos do espirito humano, quando elles são os fragmentos que ficaram de uma raça que formou as concepções fetichistas, as quaes para outras raças mais especulativas se conservaram como ficções.
- ↑ Mythologi des Plantes, t. II, pag. 36.
- ↑ Além da Fabula dos Membros e do Estomago, e da Matrona de Epheso, communs á China e á Europa, temos, entre outras já citadas, a do Joven Brahmane que suja o dedo (Avad., pag. 223), que se repete em Portugal, na Allemanha e na Escossia (Contos populares portuguezes, pag. VIII); a disputa dos dois demonios (Avadanas, II, pag. 8) analogo ao conto da cacheira, botas de sete leguas e toalha-meza. Dá-se egual similaridade com o romance da Donzella que vae á guerra.