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mos aqui não somente a heroina que foge, mas a heroina que viaja; esta heroina é a Aurora…» (p. 259.) Nos romances populares portuguezes ha donzellas mettidas em esquifes de vidro ou deitadas ao mar em cofres. Nos costumes domesticos, as crianças são intimidadas com a ameaça de um velho que vem e as leva em um sacco. O surrão é o sacco de couro das tradições indo-europêas e dos costumes juridicos da penalidade symbolica medieval.


4. A saia de esquilhas. — O vestido com escamas de ouro com que a menina escapa á ferocidade da sogra é a Aurora depois que brilha vencendo a escuridade maligna ela Noite. É um typo geral d'este cyclo novellesco. No conto hindu intitulado Sourya-Bai, da collecção Old Decan Days, de M. Frere, a menina fica com um somno lethargico por causa de um espinho, e é lançada n'um poço por outra mulher que a vê amada por um principe. Sobre o caracter mythico d'este conto pode applicar-se a consideração de Husson sobre o citado conto hindu: «Temos n'esta narrativa o novo exemplo do mytho da mulher picada por um espinho ou por uma ponta aguda, e caindo em um somno lethargico de que é tirada por um principe amoroso. Um outro mytho se lhe sobrepõe, o de uma rival ou irmã ciosa, que personifica a hostilidade da escuridão contra a luz da primavera contra o inverno; e n'esta phase de desenvolvimento novas peripecias se manifestam entre uma morte apparente e um regresso persistente á vida.» (La chaine traditionelle, p. 109.) Nos Contos populares portuguezes, Lisboa, 1879, o conto XXXV, Os Sapatinhos encantados versa sobre um somno lethargico com algumas relações no fim com o nosso.


5. As tres fadas. — No conto hindu de Sonrya-Bai, a menina tambem nasce de um fructo de manga, e tendo anteriormente sido roubada, depois que volta á sua casa