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representado pelo urso com um caracter demoniaco: «O aldeão logra duas vezes o seu companheiro urso; primeiro quando semeam juntamente nabos, e que o aldeão reserva para si o que cresce debaixo da terra, deixando ao urso o que sae e se levanta acima do chão; depois, quando elles semeam trigo, e que o urso, julgando-se agora mais esperto toma para si o que cresce debaixo da terra e cede ao aldeão o que se produz para fóra d'ella. O aldeão está a ponto de ser devorado pelo urso, quando a raposa o vem soccorrer.» (Myth. zoologique, t. II, p. 119.) D'este conto da collecção de Afanasieff, acha-se uma variante na Noruega, n.º 74, da collecção de Asbjörnsen, e na Allemanha, na collecção de Grimm, n.º 189. Em um conto caucasico, publicado no Magazin für die Litter. des Auslands, n.º 134, de 1834, figura o Diabo, que tambem é enganado. Sobre este conto Liebrecht escreveu um estudo comparativo na Academy, de 1873, n.º 74, resumido por Gubernatis, loc. cit. No Conde de Lucanor, de D. João Manuel, cap. 41: De lo que contescio al Bien y al Mal, vem este mesmo conto, em que tambem ha os nabos da partilha. (Ed. 1642, fl. 111.) Nos West Highlanders popular Tales, de Campbell, acha-se este conto em que figuram a raposa e o lobo, e a cultura é de aveia e depois de batatas. Ap. Contes populaires de la grande Bretagne, de Brueyre, p. 363, que traz mais estas fontes similares: Rabelais, Pentagruel, liv. IV, cap. 45 e 46. Lafontaine, conto de Le Diable et Papefiguiere. Na tradição oral franceza o conflicto dá-se entre S. Martinho e o Diabo. Nos Contes populaires agenais, de Bladé, figura sob o titulo de La Chèvre et le Loup. Gubernatis, na Mythologie des Plantes, t. II, p. 31, cita este conto mostrando «como os mythos se deslocam e se multiplicam infinitamente, tendo muitas vezes o mesmo ponto de partida.»


82. Os corcundas. — Apparece tambem na tradição popular italiana, colligida pelo prof. Gubernatis, na Bota-