Arcello, arcello,
Deita o teu cabello
Cá abaixo de repente,
Quero subir immediatamente.
Foi então que elle viu apparecer á janella uma trança de cabello tão comprida, que ficou espantado com a sua belleza. A velha pegou-se a ella como se fosse uma corda e subiu para dentro de casa. Pouco tempo depois a velha tornou a sahir, e o cavalleiro tendo desejo de vêr de quem seria a trança, chegou-se á parede, bateu, e repetiu as palavras:
Arcello, arcello,
Deita o teu cabello
Cá abaixo de repente,
Quero subir immediatamente.
A trança desceu pela janella abaixo, e o rapaz subiu. Ficou pasmado quando viu diante de si a cara mais linda do mundo. A menina deu um grande ai de afflicção:
— Vá-se embora, senhor, que póde vir minha mãe, e tem artes de lhe causar todos os males que ha.
— Não vou, sem a menina vir commigo, porque eu assim ganho o reino de meu pae. E se não quizer vir, boto-me d’esta janella abaixo.
Desceram ambos pela parede, e fugiram a toda a pressa no cavallo que estava folgado á sombra. Ainda não iam longe, quando ouviram uma voz:
— Pára, pára, filha cruel, não me deixes só no mundo.
E como a filha fosse sempre fugindo com o principe, a velha disse-lhe:
— Olha para traz ao menos, para receberes a bênção de tua mãe.
Assim que a menina se virou para traz, ella disse-lhe:
— Eu te fado, que essa cara linda que tens se torne em uma cara de boi.