Coitadinha, ficou logo com cara de boi.
Assim que o principe chegou á côrte pozeram-se todos a rir d’aquella figura horrenda, sem saber como elle se tinha apaixonado por cousa tão feia, que fazia fugir. O principe contou a sua desventura aos irmãos, mas quem é que se fiava? Estava quasi a chegar o dia em que os tres irmãos haviam de apresentar as suas mulheres diante de toda a côrte, para se assentar qual era a mais linda, e qual d’elles é que havia de ficar com o reino.
A rainha velha tinha muita pena do filho, e lembrou-se de fazer demorar a cerimonia, para vêr se a velha com o tempo perdoava á menina e lhe restituia a sua formosura.
Disse a rainha, que queria que antes da cerimonia da côrte cada uma das suas tres noras lhe bordasse um lenço. A filha da padeira e a do ferreiro não sabiam bordar, e trataram de enganar a rainha, arranjando quem lhes fizesse os bordados; a que tinha cara de boi pôz-se a chorar, e tanto chorou que lhe appareceu a velha, e disse:
— Não te rales mais; no dia em que tiveres de entregar o lenço á rainha eu cá t’o virei trazer.
Chegou o dia, e a velha veiu entregar-lhe uma noz muito pequenina. A cara de boi foi leval-a á rainha, dizendo que ali estava o seu lenço. A rainha quebrou a noz e ficou pasmada com a mais fina cambraia, bordada com flôres e ramos e aves.
Chegou o dia de irem á côrte para serem apresentadas as tres noras do rei; a cara de boi pôz-se a chorar, a chorar, até que lhe appareceu a velha que era mãe d’ella:
— Não chores mais; trago-te aqui um vestido para a festa. – Desdobrou-o; era todo bordado de ouro e pedrarias; a filha vestiu-o, mas quando o vestido era lindo, tanto ella ficava mais horrenda. E pôz-se a chorar, a chorar cada vez mais.