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lho, ao passar a serra, abriu o surrão e disse para a pequena:

— D’aqui em diante hasde-me ajudar a ganhar a vida; eu ando pelas ruas, a pedir, e quando disser:

Canta surrão,

Senão levas com o bordão…

tens de cantar por força. Toma tento.

Por toda a parte por onde o velho passava todos ficavam admirados d’aquella maravilha. Chegou a uma terra, aonde já chegára a noticia de um velho que fazia cantar um surrão, e muita gente o cercou para se certificar. O velho depois que viu que já estavam bastantes curiosos, levantou o pao e disse:

Canta surrão,

Senão levas com o bordão.

Ouviu-se então um canto que dizia:

Estou mettida n’este surrão,

Onde a vida perderei,

Por amor dos meus brinquinhos

Que eu na fonte deixei.

As auctoridades tiveram conhecimento d’aquelle caso, e trataram de vêr onde é que o velho pousava; foram ter com uma vendeira, que se prestou a deixar examinar o surrão quando o velho estivesse dormindo. Assim se fez; lá encontraram a pobre rapariga, muito triste e doente, que contou tudo, e então é que se soube do caso da viuva a quem tinham furtado a filha. A pequena saiu com as auctoridades, que mandaram encher o surrão de todas as porcarias, de sorte que quando o velho foi ao outro dia mostrar o surrão, este não cantou; deu-lhe com o