guntou-lhe se ella queria ir com elle. Respondeu que sim. Quando a metteu na carruagem, acudiu a aguia para lh’a tirar, mas não podendo ainda lhe vasou um olho. A menina ficou com aquelle grande defeito, mas o principe não deixou de a amar. Levou-a comsigo, e escondeu-a no seu quarto no palacio. A rainha desconfiada de vêr o filho sempre fechado no seu quarto, quiz saber o que seria, e combinou uma grande caçada, que durava dias. Foram todos e por lá andaram, e a rainha pôde entrar no quarto do filho por uma porta que só ella sabia. Assim que entrou viu a menina:
— Ah! és tu, torta zarôlha, que tanto encantas o meu filho? Anda d’ahi vêr estes palacios e o jardim.
A menina foi com a rainha; assim que chegaram ao jardim, levou-a para o pé de um poço muito fundo, e deitou-a lá dentro. Quando veiu o filho da caça, foi logo ter com elle:
— Aquella torta zarôlha que tinhas fechada no teu quarto, assim que se lhe abriu a porta, botou a correr por ahi fóra, e ninguem foi capaz de a apanhar.
De noite passaram trez fadas pelo pé do poço e sentiram uns gemidos:
— Que será? que não será?
— São vozes de mulher.
Chegaram á borda do poço para escutarem melhor, e disse uma das fadas:
— Eu te fado que saias d’esse poço cá para fóra, e que sejas da maior perfeição do mundo.
— Pois eu te fado que tenhas uma tezourinha de prata, para cortares a lingua a quem te perguntar as cousas duas vezes.
— E eu te fado que tenhas um palacio defronte do palacio da rainha, que seja velho por fóra, mas por dentro chapeado de ouro e prata.
Ao outro dia, ficaram todos espantados no paço por verem um grande palacio antigo defronte, sem se lem-