rei, e como elle é que tinha ensinado a cura do rei casou-o com a princeza e foram muito felizes.
(Ilha de S. Miguel — Açores.)
Um homem de grandes artes tinha na sua companhia um sobrinho, que lhe guardava a casa quando elle sahia. De uma vez deu-lhe duas chaves, e disse:
— Estas chaves são d’aquellas duas portas; não m’as abras por cousa nenhuma do mundo, senão morres.
O rapaz assim que se viu só, não se lembrou mais da ameaça e abriu uma das portas. Apenas viu um campo escuro e um lobo que vinha correndo para arremetter com elle. Fechou a porta a toda a pressa, passado de medo. D’ahi a pouco chegou o Mago:
— Desgraçado! para que me abriste aquella porta, tendo-te avisado que perderias a vida?
O rapaz taes choros fez que o Mago lhe perdoou. De outra vez sahiu o tio, e fez-lhe a mesma recommendação. Não ia muito longe, quando o sobrinho deu volta á chave da outra porta, e apenas viu uma campina com um cavallo branco a pastar. N’isto lembrou-se da ameaça do tio, e já o sentiu subir pela escada, e começou a gritar.
— Ai que agora é que estou perdido!
O cavallo branco fallou-lhe:
— Apanha d’esse chão um ramo, uma pedra e um punhado de areia, e monta já quanto antes em mim.
Palavras não eram ditas, o Mago abria a porta da casa; o rapaz salta para cima do cavallo branco e grita:
— Foge, que ahi chega meu tio para me matar.
O cavallo branco correu pelos áres fóra, mas ia já muito longe, e o rapaz torna a gritar:
— Corre, que meu tio já me apanha para me matar.