disse ao pagem que fosse matar aquella criança, porque era preciso fugir a um agouro com que ella tinha nascido. O pagem não teve alma para matar o innocente, e deixou a criança no fundo de um barroco, entre uns silvados, embrulhada no cinto vermelho que elle tirou de si. Tornou para onde estava o rei, e disse:
— Real senhor, não tive animo de matar a criança, mas deixei-a n’um sitio d’onde se não vê nem monte nem fonte, e lá morrerá com certeza.
Aconteceu que um rachador de lenha veiu trabalhar para aquelle sitio, ouviu chorar uma criança, desceu ao barroco e tirou-a condoido, e levou-a para casa. A mulher, que não tinha filhos, acolheu-a com satisfação e tratou-a como se fosse seu sangue, e chamavam-lhe Maria da Silva, em lembrança do acontecido.
Passados annos o pagem ia com o rei de jornada e viu uma rapariguinha de cinco annos vestida com uma capotilha vermelha, que elle conheceu ser feita do seu cinto. Foram ter com os camponezes, souberam a historia da rapariga, o rei deu-lhes muito dinheiro, para o deixarem leval-a para o palacio; assim que o rei partiu, mandou fazer um caixão onde metteu a Maria da Silva, e foi elle mesmo deital-a ao mar. Um navio encontrou no alto mar o caixão, quizeram vêr o que continha, e ficaram pasmados por acharem ainda viva uma criança muito linda. Foram contar tudo á terra a que chegaram, e o rei d’ali quiz vêr a rapariguinha, a rainha tomou-lhe amor, e quiz que ella se criasse no palacio, para servir de aia á princeza. Quando se fizeram as festas do casamento da princeza, já Maria da Silva era grande; vieram ás festas do casamento muitos reis e principes e veiu tambem aquelle que queria matar Maria da Silva.
O pagem que o acompanhava conheceu logo Maria da Silva, e disse-o ao rei seu amo. O rei, quando foi ao serão, quiz dansar com ella, que estava muito aceiada, e deu-lhe um annel dizendo: