Página:Contos e phantasias (Maria Amália Vaz de Carvalho, 1905).pdf/101

Wikisource, a biblioteca livre
CONTOS E PHANTASIAS
95

— Seria elle? disse a dona da casa baixo, e fitando-o tristemente.

E toda a gente que o ouvira como que por instincto affastou-se do pobre moço.

Podia ser, que fosse elle. Era pobre, pois não viam isso claramente?

Os olhos de todas as mulheres que alli estavam começaram então desapiedadamente a analysal-o por miudo, e passavam-lhe em revista a casaca cossada, a pouca finura da camisa, a gravata branca ligeiramente encardida, as joelheiras luzidias das calças pretas.

— E não é feio rapaz!

— Pois sim, mas Lacenaire tambem não era feio, volveu outra menos caridosa e mais letrada.

Antonio de Vasconcellos approximou-se de Jorge de Alvim, e baixo com voz concentrada disse lhe:

— Uma palavra, Sr. Alvim, desejo dar-lhe uma palavra...

— É melhor mais tarde... depois..., replicou desdenhosamente Jorge de Alvim.

Repararam todos na insistencia de Antonio de Vasconcellos, e as suspeitas mais e mais se enraizaram no espirito dos convivas.

O pobre rapaz, que conhecia a falsa posição em que se collocara com a sua phrase, sentia-se humilhado e como que vendido n’aquelle meio.