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CONTOS E PHANTASIAS

Os proprios criados olhavam-no com manifesto desprezo.

Vasconcellos disse ainda ao diplomata:

— Sr. Jorge de Alvim, pela ultima vez, quer ouvir-me?

— Homem, já sei; é pobre, teve uma fascinação, já li isso não sei aonde... Ah! já sei... n’um conto de Balzac...

E voltou-lhe as costas.

N’esse instante uma voz entaramellada e rouca echoou na sala:

— Peço que me escutem! como sou o unico pobre que aqui está, e como todas as circumstancias são em meu desfavor, podem julgar que fui eu que roubei esse annel. Se não consenti na proposta feita pelo Sr. Jorge de Alvim, — e na pallidez do seu rosto destacavam-se duas rosas de pejo, — foi porque, se me revistassem, encontravam-me no bolso isto que eu furtei para levar á minha irmã que não come desde hontem... disse o mancebo tirando da algibeira um pão.

Houve um grande e profundo silencio angustioso. A condessa foi a primeira a rompel-o adiantando-se para Vasconcellos.