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CONTOS E PHANTASIAS

com que se preoccupam muito os invejosos, e um pouco os escrupulosos.

O resto das pessoas, e já se vê que são muitas, essas nem para ahi voltam os olhos.

Acham este esmiuçar impertinente das vidas alheias além de enfadonho pouco aristocratico.

O visconde passava o verão na provincia do Minho, n’uma povoação perto de Vianna, onde comprára um velho palacio, cuja frontaria ennegrecida elle mandára cuidadosamente caiar.

O portão do palacio era encimado pelo brazão d’armas da familia arruinada a que pertencêra. O visconde, que não quizera conservar mais nada intacto, teve a caridosa lembrança de o conservar a elle.

Mandou-o limpar das hervas e dos musgos damninhos que se tinham introduzido entre as fisgas da pedra, e dos ninhos que a phantasia errante das andorinhas alli armára no estio.

Depois de limpo pareceu-lhe um ornato sympathico e nada contradictorio com os seus gostos plebeus, e deixou-o alli ficar, com tenção firme de o cobrir de crepe, no caso de lhe morrer algum dos seus.

Foi depois d’isto que se decidiu a pedir ou por outra a comprar, dos poderes publicos complacentes o seu titulo de visconde.