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CONTOS E PHANTASIAS

estivera mais rodeada de admirações lorpas e de cultos banaes, em que, ebria d’esse grosseiro incenso das salas, ella exhibira todas as suas raras e distinctas prendas de mulher bonita e de mulher garrida, ousou sorrindo perguntar a Gastão, que mais d’uma vez a tinha olhado com mal disfarçada ironia:

— Não me dirá qual é o seu ideal de mulher? Vejo-o sempre tão reservadamente cortez com todas as senhoras, que ainda não percebi o que é preciso ser para lhe agradar.

— Meu Deus! não ha nada mais facil — respondeu o moço fictando o olhar limpido e honesto no altivo olhar de Clotilde. — É preciso ser uma mulher em quem ninguem repare.

— Julguei que a mediocridade o não captivava a esse ponto — volveu Clotilde mordendo os beiços de colera.

— Mas é que não é ser mediocre ser modesta. É que a mulher que gosta de brilhar, não sabe o que é sacrificio e abnegação, é que para mim todos os encantos que se apreciam nas salas, não valem um bom e candido coração que saiba amar-me e viver só para mim.

Não se póde dizer que Clotilde adorava Gastão, mas emfim a verdade é que gostava muito d’elle. Achava-o superior, correcto, distincto, d’uma aristocracia innata que a encantava.