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CONTOS E PHANTASIAS

Illudi-me porque lhe quiz muito, e perdôo-lhe por que me illudi.

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Hontem, minha mãe, a pobre velhinha que succumbe ás agonias da sua recente viuvez, dizia-me diante do berço de meu filho desamparado, do meu orphãozinho, cujo pae vive ainda: — Acabou-se tudo! Naufragámos todos tres!

Pelo contrario! Agora é que tudo começa!

Não imaginas a coragem e a energia que eu sinto em mim!

Sou eu, minha mãe e meu filho.

Uma quasi que perdeu a consciencia, o outro não a tem ainda. Sou eu que preciso pensar e trabalhar por todos tres.

Na grande desgraça que me feriu, a ideia de que sou necessaria, de que me tornei indispensavel aos entes a quem mais quero, inoculou-me no espirito dilacerado uma força superior.

Mas como foi que tudo isto succedeu? perguntas tu cheia de pasmo.

Não sei! Uma mulher que passou, uma artista que tinha em talento o que lhe faltava em coração e que o levou atrás de si, satelite desprezivel, de um astro cahido.

Não tenho saudades d’elle, crê que não tenho.