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CONTOS E PHANTASIAS
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O homem que eu amei era uma nobre e digna creatura, incapaz de transigir com a honra, e de submetter-se á tyrannia dos appetites brutaes.

Tinha defeitos, era violento, apaixonado, irascivel, mas era honesto.

Esse homem morreu, ou não existiu nunca.

O que fugiu não se parecia com elle.

Quando estou só, estremeço ás vezes com um asco intraduzivel de mim propria.

Quem é que se consola das maculas de um tal amor?

Não te disse eu, que se tudo me faltasse, os meus velhos mestres, os meus amigos, as almas sonoras e transparentes que sabem traduzir em sons tudo que ha de bello na natureza, as côres, os perfumes, as linhas, o mundo da materia e o mundo do espirito; não te disse eu que elles me consolariam e me haviam de amparar?!

Chegou o momento supremo.

Chamei os e não faltaram ao meu apello.

Mostrei-lhes o meu coração partido, o meu orgulho machucado, as minhas illusões desfeitas e disse-lhes: Consolai-me! Mostrei-lhes o meu filho pequenino, e a minha mãe decrepita, e disse-lhes: dae-lhes pão!

E ouviram-me as almas adoraveis!

Sinto em mim a virilidade augusta dos fortes.