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CONTOS E PHANTASIAS

mais violentas sahiam-lhe em borbotões por entre os dentes, que apertavam estreitamente o tubo fumoso do cachimbo.

O navio afrouxára a sua marcha, comtudo os escaleres ainda iam bastante longe do ponto negro que todos julgavam ser o capitão.

— Lá bom nadador é elle, dizia o contra-mestre, mas se ha tubarões assim! e reunia os dedos em pinha.

Estendia os braços, dependurava-se da grade da pôpa, e com gestos anciosos tentava animar os marinheiros dos escaleres.

— Força, rapazes!

No rosto de todos os passageiros lia-se um grande terror e uma pena profunda.

Era impossivel escapar. O capitão apesar de bom nadador já estava velho e cançado, depois os tubarões...

Os marinheiros contavam casos horrendos que haviam presenciado, e em que figuravam esses assanhados tigres do mar.

— Valha-nos o senhor de Mattosinhos! conclamavam n’um grito lancinante aquelles homens, que tantas vezes tinham luctado heroicamente contra as colericas sanhas da tempestade, e que adoravam o bondoso velho, o seu capitão.

O ponto negro ia-se distinguindo mais nitidamente: