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CONTOS E PHANTASIAS

Da galera, applaudiram a acção da Cigana, e quando ella e o capitão chegaram, não sei bem qual dos dous foi mais abraçado.

— Bravo, Cigana! exclamou o contra-mestre, não ha homem que te valha. Dá cá um abraço!

O capitão foi levado por dous marinheiros para a sua camara, emquanto a Cigana, resfolegando alto, com os olhos embaciados, o corpo escorrendo agua e todo tremulo, tentava arrastar-se para onde lhe levavam o dono.

Ora, aqui está porque a Cigana era tão querida e estimada na pequena e alegre casa do capitão em Lessa, e aqui está a razão por que a filha do velho e bondoso Navarro lhe pedia com tão amavel meiguice que deixasse ficar a Cigana quando para a outra vez tivesse de fazer viagem.

Quando a galera Terrivel partiu, não levava a seu bordo nem o capitão nem a Cigana. Porque?

Se o leitor é pae diga-me, se no caso do capitão Navarro, teria forças de fazer-se ao largo e deixar sósinha uma filha de quinze annos, graciosa e encantadora.

Não tinha forças para tal, acreditamos.

Ao capitão succedeu o mesmo. Despediu-se dos