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CONTOS E PHANTASIAS

terror a sua infancia, maltratava-o nas explosões brutaes de seu temperamento de touro bravo.

O outro — a senhora — muito altiva, muito fria, muito desdenhosa, nem sequer lhe fallava.

Olhava-o ás vezes como se olha para um animal repugnante, para um sapo, ou para uma carocha, e passava adiante, imperturbavel e olympica.

Havia, porém, um outro sêr, dos que mais em contacto estavam com elle, que nem o maltratava, nem o desprezava com a glacial frieza do seu desdem.

E comtudo era d’esse que elle tinha ainda mais medo.

Era seu tio; uma figura original, uma physionomia de titan que por um engano qualquer da natureza não pôde conseguir passar de anão.

Seu tio!... Como esta individualidade extraordinariamente accentuada, como este rosto ironico, irregular, convulsionado, dominou para sempre o destino obscuro da infeliz creança que eu conheci já velho!

Seu tio não o perseguia nem lhe manifestava uma repugnancia muda, pelo contrario.

Chamava-o continuamente para o pé de si, ensinava-lhe, quando estava só, palavras, esgares, visagens grotescas que lhe fazia repetir diante de