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CONTOS E PHANTASIAS
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gente, n’um côro de gargalhadas asperas e hostis como gumes de espadas!

Vestia-o de um modo desusado e extravagante, vestia-o de marujo, de escossez, com as suas pequenas pernas magras, trigueiras, ossudas, n’uma nudez friorenta que lhe doia, e o fazia tiritar; vestia-o de tyrolez, o que lhe dava um aspecto comico, que arrebentava com riso a criadagem.

Ás vezes nos seus dias de melhor humor sahia com elle, que tinha apenas sete annos de idade, de casaca, chapéo-alto, e berloques na cadeia do relogio.

Tinha tempos em que não podia passar sem a sua companhia; a creança era a unica distracção do anão.

As caricias d’esse homem singular, de olhar faiscante, de cabelladura revolta e electrica, de voz sonora e rica de inflexões estranhas, doíam, porém, ao pequeno muito mais do que os desprezos ou os máos tratos dos outros.

Ao pé d’estes sentia-se perseguido, ao pé d’aquelle sentia-se humilhado.

Um dia o marquez — o tio do pequeno Thadeu era marquez, — achou comico mandar introduzir a creança no cofre acharoado que havia junto ao fogão do gabinete de trabalho, destinado a guardar a lenha ou o carvão que se consumia.