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CONTOS E PHANTASIAS

«É a ti que prefiro escrever. Conheceste-me solteira, feliz, idolo de um pae, que, ai de mim! se perdeu e me perdeu pela vaidade. Has de ter dó de mim.

«Tenho dois filhos e preciso ganhar honestamente o pão que elles hão de comer!

«Presinto o teu espanto, as tuas interrogações, os brados afflictivos da tua surpreza!

«Não me perguntes nada.

«Pergunta-o se quizeres, a essa Lisboa, que assistiu ao louco esphacelar de uma fortuna enorme, com o sorriso banal e adulador que ella tem para todos os perdularios.

«Sabes a educação que recebi.

«Creio que seria uma mestra capaz de cumprir com a minha ardua missão.

«Em nome dos teus louros pequeninos, tão fartos de gulodices e de beijos, arranja-me algum meio de ganhar um pedaço de pão para os meus filhos.»

Dava lições!

A brilhante Condessa de V..., a filha adorada de um dos homens mais ricos de Lisboa, a rainha dos salões luxuosos, a estrella mais fulgurante do alto mundo, dava lições para sustentar os dous