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CONTOS E PHANTASIAS
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filhos que lhe restavam, unicos vestigios de um passado de pomposas mentiras.

O infortunio nobremente supportado transfigurara aquelle rosto desdenhoso e soberbo de garrida mundana.

Deixára de ser rainha e levantára-se martyr!

Levantava-se de manhã muito cedo, bebia á pressa uma chicara de café, que a sua fiel Miss Brown, companheira dos triumphos e das desventuras lhe preparava por suas proprias mãos, e sahia, modestamente vestida de preto, a cumprir a sua improba tarefa.

Só voltava a casa de noite.

Divulgára-se rapidamente a noticia d’aquella excepcional desventura, e muita gente, que vira com desprazer a prodigalidade da caprichosa condessa, compadecia se agora, sem pensamento reservado, d’aquella digna e santa expiação.

Margarida tinha muitas discipulas.

Fazia pena vel-a, muito delgada, quasi diaphana, com os olhos pisados, as faces córadas pelo cansaço e pela febre, e um sorriso triste resignado, humilde, n’aquelles labios que tinham sabido tregeitar com tão altivo desdem.

Era sempre a mesma alma sem energia.

Não esperava cousa nenhuma da terra senão a morte, levando a consciencia de ter expiado os erros do seu orgulho.