Página:Contos e phantasias (Maria Amália Vaz de Carvalho, 1905).pdf/18

Wikisource, a biblioteca livre
12
CONTOS E PHANTASIAS

De minuto em minuto abria-se a tampa e sahia a cara vermelha e congestionada do pequeno, uma cara de animal assustado, o que divertia extraordinariamente as visitas.

Outra vez, n’uma ceia alegre em que havia rios de champagne e risadas crystallinas de mulheres, Thadeu com um fato de meia preta a cobril-o todo e dous castiçaes nas pequenas mãos, servia de centro agachado n’uma posição grotesca no meio da meza.

Sahiu d’alli com uma febre que o teve um mez entre a morte e a vida, delirante, sem conhecer ninguem, com a mãe debulhada em lagrimas á cabeceira.

Mas Thadeu não gostava de sua mãe.

Era uma creatura tão debil como elle, pallida como uma defunta, inerme, estupida, sem vontade.

As lobas defendem os seus filhos, a mãe de Thadeu não o sabia defender!

Entregava-o ás coleras descompostas do pae; aos desprezos gelidos da tia; aos caprichos monstruosamente comicos do marquez; ás apupadas brutaes das aias e dos lacaios; aos risos das visitas; ao pasmo desprezador das outras creanças, que iam áquella casa opulenta e ruidosa acompanhadas por seus paes, vestidas de velludo, com plumas nos seus lindos chapéus, o ar grave de meninos bem creados,