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CONTOS E PHANTASIAS

de vestir, e concluia vendo-os entrar para a Universidade, n’um dia de muitas lagrimas e de muitos dilaceramentos, altos, esbeltos, um pouco altivos, com um buçosinho louro, appetitoso como a pennugem d’um pecego mal maduro.

Foram-se-lhe dias e dias n’este sonhar que a entretinha, como a leitura d’um romance cujo interesse nunca afrouxa.

Um dia, porém, por acaso viu-se ao espelho, e despediu-lhe o seio um grito de angustia.

Despontava-lhe entre os fártos cabellos louros, o primeiro cabello branco, um fio de prata, tenue, quasi imperceptivel, uma cousa em que ninguem reparava.

Reparou ella.

Reparou tambem n’esse momento que todas ou quasi todas as companheiras tinham casado, que muitas das suas illusões se tinham desfeito ás asperas nortadas da realidade, que se ia sentindo na vida muito só.

Teve umas horas de lucta, de revolta, quasi de desespero.

Alguem, ou alguem invisivel em que ella sempre acreditára, mandou-lhe a força, porque lhe mandou a resignação!

Quando o pae lhe morreu veio para casa dos irmãos, e a pouco e pouco achou em si a fonte de