Página:Contos e phantasias (Maria Amália Vaz de Carvalho, 1905).pdf/196

Wikisource, a biblioteca livre
190
CONTOS E PHANTASIAS

— Queira sentar-se, disse benevolamente o commerciante ao mancebo.

E continuou a ler. A carta era pequena, mas n’aquellas letras arrevesadas e tremulas elle via um rosto, umas feições adoradas, e logo depois como nas tintas esbatidas e aereas de um sonho de convalescente, levantava-se uma figura de mulher ainda moça e vigorosa, ao pé de umas carvalheiras, e essa mulher estendia-lhe os braços e dizia-lhe de longe com uma voz entrecortada de lagrimas:

— «Ah! rico filho, rico filho da minh’alma!»

Arrancado d’aquella visão, o sr. Cerqueira dobrou a carta devagar com as mesmas dobras, abriu a larga carteira de marroquim vermelho e collocou-a com grande cuidado n’um determinado compartimento.

Em seguida levantou-se e pitadeando de novo:

— Olhe, o nosso guarda-livros vai espairecer até Buenos-Ayres, e creio que por lá ficará. Coitado! aquillo vai mal!... Quer o senhor occupar esse lugar n’esta casa?

O moço acceitou reconhecido, e ia a levantar-se quando um preto velho em mangas de camisa abriu a porta do escriptorio:

— O jantar está na mesa, nhônhô...