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CONTOS E PHANTASIAS
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Martha era mestra de duas filhas do commendador, duas rapariguinhas de treze a quinze annos, muito presumidas da sua riqueza, muito vaidosas do seu luxo, das carruagens em que andavam, dos vestidos de seda que vestiam, das festas com que os paes alteravam de vez em quando a chata monotonia do seu viver de negociantes retirados.

O commendador tinha um filho muito mais velho do que as irmãs, que se educára na Allemanha; e que depois de viajar pela Europa inteira, havia regressado emfim á casa paterna, onde, aqui para nós, se enfastiava poderosamente.

O commendador queria dar tambem ás filhas uma educação brilhante, uma educação que correspondesse ás dimensões da sua burra, eis porque, depois de as tirar do convento, onde tinham estado até áquella idade, escolhera para professora Martha de Vasconcellos.

De resto as idéas do commendador e da mulher sobre a educação de suas filhas, não eram das mais engenhosas e atiladas.

A pobre gente — n’este caso, pobre significa riquissima — a pobre gente não era obrigada a ter um ideal muito levantado.

Sabiam que a filha do barão de tal tocava pianno, e queriam que suas filhas soubessem tocar muito melhor.