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CONTOS E PHANTASIAS

Mas era assim mesmo que elle a queria.

Quando as mãosinhas polpudas e brancas de Margarida lhe batiam, Thadeu sentia-se feliz como um rei.

Quando ella o obrigava a agachar-se no chão para lhe servir de jumento, o rapazinho tinha tentações de rinchar de prazer, fazendo o passo bem ao vivo.

Porque no fim de contas, apezar de todas as suas adoraveis crueldades, Margarida gostava d’elle.

A presença de Thadeu illuminava de risos o seu rosto oval coroado de cabellos louros annellados, o seu rosto a um tempo angelico e gaiato!

Margarida não o achava feio, nem tolo, nem ridiculo, nem doente.

Não desprezava a fraqueza dos seus braços, nem a pobreza absoluta da sua imaginação.

Pelo contrario! Admirava o!

Sim; ella dera-lhe essa sensação poderosa e extraordinaria, a sensação dos que se vêem admirados com ingenua confiança.

Margarida pedia-lhe cousas enormes, com uma serenidade ineffavel de crente!

Pedira-lhe um ninho de melros, e o que é mais! conseguira que elle tão medroso, tão debil, tão assustado, trepasse pelos braços nodosos de uma grande arvore e lh’o fosse buscar lá cima.