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CONTOS E PHANTASIAS

que sem ella saber porque, a estava chamando sempre!

Depois nas arvores é que vivem os passaros, é alli que elles dependuram os ninhos, que elles modulam as suas cantigas sem libretto, que elles cantam a quem passa as suas alegrias e as suas saudades.

As arvores são boas, hospitaleiras e carinhosas, como se tivessem uma alma occulta sob a rugosa cortiça dos seus troncos.

Ellas dão sombra, dão frescura, dão fructos, dão flôr, dão um bom cheiro sadio, que reconforta e alegra; as arvores, minha Naly, são as nossas melhores amigas.

Tu has de saber mais tarde, que no mundo ha muito riso falso, muita amizade fingida, muita cousa que a gente julga solida, e que no fim de contas está construida sobre a areia; mas os vegetaes, os eternos amigos do homem, os que o nutrem e se nutrem d’elle, oh! esses nunca nos mentem nem atraiçoam, nem dão conselhos máus!

O jardim era, pois, para a nossa Bertha um mundo riquissimo, um mundo mysterioso, onde a vida palpitava, no insecto, na planta, no musgo, na ave, na terra fecunda e robusta, na arvore frondosa, na agua limpida e corrente, em tudo que rescende e murmura, e canta, e pullula, em tudo