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CONTOS E PHANTASIAS
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O pae, quando voltava, tinha sempre tanto que contar!

Gente que vira, casos que lhe haviam succedido! planos de futuro que andava devaneando, e depois risos, brinquedos, correrias atrás do diabrete da Berthazinha, eu sei!... o demonio a quatro!

Havia alli um conchego tepido, uma alegria, uma benção de Deus, repartida por tres almas, e que parecia reflectir-se nas cousas mudas que o cercavam servindo lhe de elegante e rendilhada moldura.

Queres tu saber, Naly? Bertha tinha um defeito. Era um bocadinho egoista. Um egoismo de tres, já se entende, porque ella não sabia separar a sua vida da de seus paes.

Uma das manifestações mais claras d’este egoismo era a repugnancia que tinha pelos estranhos.

Sentia frio ao pé d’elles; fugia muito pensativa e muito arisca quando via um indifferente interpôr-se importunamente entre ella e as caricias que eram o seu alimento de todos os instantes.

Mas a pessoa que mais lhe aggravava esta impressão hostil, era um primo que por aquelle tempo começara a frequentar mais a casa.