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CONTOS E PHANTASIAS
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e sadios da livre natureza, não podia supportar aquelle cheiro de essencias requintadas, a que dava este nome generico e detestado.

A mamã por ter de atural-o a cada instante, renunciára aos seus dôces trabalhos d’outro tempo, de que Bertha gostava tanto, e que davam ás suas mãosinhas travessas a sensação grata das sedas, das bonitas fazendas desdobradas sobre o estofo das poltronas, de todas as graciosas cousas com que podia brincar.

Andava triste a sua adorada mãesinha.

Tinha horas de melancholia morbida em que a cabeça lhe cahia no peito, como se tivesse dentro estranho pezo. E ficava-se horas e horas calada e desfallecida, com um livro aberto no regaço, ou com um trabalho apenas começado cahido aos pés, sem ouvir o papaguear festivo da sua pequena Bertha.

Quando voltava a si d’aquellas scismas doentias, parecia acordar d’um mau sonho, passava a mão pela testa, bebia agua, muita agua, e beijava a filha com um arrebatamento que lhe fazia mal.

A pequenita enfastiava-se!

Pudéra!

Fugia só para o jardim, sem que uma voz sollicita e assustada a chamasse de longe, sem que uns olhos inquietos a velassem de perto, e punha-se