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CONTOS E PHANTASIAS

n’uma indistincta e muda linguagem que só as suas flores entendiam a queixar-se das tristezas vagas, que a definhavam longe do calor que d’antes a acalentava e aquecia.

As tardes do gabinete azul, os principios da noite, quando cahia do alto dos céos a penumbra indecisa e dubia do crepusculo, tudo aquillo perdera a sua graça, a sua antiga e ideal doçura!

No silencio constrangido da saleta, retiniam então os passos conquistadores do intruso, e Bertha com vontade de romper em soluços, pedia muito depressa que a fossem deitar.

Chamava-se a creada, vinha, levava-a pela mão, amuada, e ella, ao aconchegar-se nas roupinhas do seu leito, sentia ainda uma estranha impressão de desconforto e de frio. Era o beijo distrahido e formalista, que lhe haviam imprimido na testa os labios quentes, seccos e febris de sua mãe.

Era noite de festa para Berthazinha.

Estavam sós todos tres no gabinete azul, o paraiso d’outr’ora, onde agora não havia senão flores... que ella não colhêra!