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CONTOS E PHANTASIAS
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doutrinas, como atraiçoavam a sua fé os catholicos mal esclarecidos das épocas de ascetismo rude, e de fanatica superstição.

Para onde vamos nós?

Se vamos para o Bem, o que é que origina esta dolorosa inquietação, que avassalla e confrange todas as almas, este contraste incomprehensivel, entre o que se pratica e o que se pensa?

Se vamos para o Mal, para que nos fallam do progresso, da perfectibilidade humana, das conquistas da civilisação, dos arrojos felizes da sciencia, de tudo que parece preparar ao homem uma quadra luminosa, feliz, nunca realisada até agora?

D’antes, n’estas horas de duvida, de angustia oppressiva, iamos nós procurar consolação na palavra animadora e harmoniosa dos que, com os olhos fitos na estrella do ideal, indicavam ao homem o rumo que elle tinha a seguir, para não se perder na sua gloriosa ascenção.

Hoje, esses pilotos da náu do futuro estão mudos ou descrêem tambem!

Mais doloroso ainda que o silencio desalentado, é o rictus sarcastico com que elles assistem á lucta estranha e confusa de tantos elementos contradictorios e incompativeis.

Depois a litteratura, que é o espelho da alma