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CONTOS E PHANTASIAS

das sociedades, é hoje por toda a parte um brado unanime de negação.

Não reconstrue, não modifica o que está feito, trata de o desmoronar pedra por pedra!

Ha um homem em França que refaz, collocado n’um ponto de vista diverso, a obra collossal de Balsac.

O romancista mais admiravel da França, aquelle que fez do romance um ramo das sciencias sociaes, fez n’um momento, que tem por força de ficar, a synthese de sua época.

Pintou, e com que potencia da verdade! os reis, e os operarios, as duquezas sentimentaes, e os artistas convulsionados pela nevrose do seu tempo, os politicos, os sabios, os pensadores, os litteratos; as peccadoras do alto mundo, e as peccadoras do mundo equivoco; os financeiros, e os luctadores ambiciosos; os que vinham perder a alma e gastar o corpo n’essa Pariz electrica e absorvente, que attrahe os genios e os monstros, e os que vinham alli conquistar a fortuna, o poder, a soberania omnipotente.

Na sua obra complexa, enorme, que ás vezes tem na distancia um não sei que de monstruoso, encontra-se viva, palpitante, com os seus vicios, com as suas paixões, com o seu talento ardente, com a sua magnetica e irresistivel seducção, uma