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CONTOS E PHANTASIAS

D’ahi a sua isenção, a liberdade dos seus movimentos, o fulgor radioso dos seus grandes olhos azues, onde um observador veria talvez as scintillações metallicas que davam tamanha dureza ao olhar de sua mãe.

Margarida tinha uma vontade de ferro, e uns nervos de mulher caprichosa.

Quando a professora allemã que seus paes mandaram buscar, quiz sujeitar o seu espirito a uma certa disciplina, Margarida revoltou-se n’um impeto de insubordinação selvatica.

Tivera criadas que a serviam, um escravo que tremia diante d’ella, e paes que transigiam com todos os seus pequenos desejos de creança.

Dera-se bem n’aquelle meio, não queria outro, não o aceitava, nem curvaria a sua cabecinha erecta e firme com uma aureola de anneis de ouro a cerca-la, a nenhum dominio que não fosse o da sua vontade.

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Um dia Thadeu ouviu fallar vagamente n’uma viagem que seus tios iam fazer ao estrangeiro, e viu começar os preparativos para ella.

Ficou no céo.

Viveria só na grande casa com Margarida e o rancho dos criados.

Seriam livres.