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CONTOS E PHANTASIAS
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inteira do homem, e explica-se por todos os factos do seu agitado viver.

Ganhar dinheiro, muito dinheiro, o que bastasse para saciar as ambições mais desregradas, os desejos mais insensatos, o ideal de luxo mais artistico e requintado, os sonhos mais orientaes de um nababo ebrio de haschish, eis o ficto que preencheu a vida de Balsac.

Á primeira vista a gente imagina que o escriptor lhe sacrificou e subordinou tudo o mais.

Engano!

Emquanto aquella phantasia desenfreada e febril revolvia milhões, aspirava á opulencia das Mil e uma noites, se lançava nas mais doidas especulações, escavava minas que não havia, procurava thesouros occultos, se exhauria emfim n’uma lucta impossivel e tenaz contra a mediocridade da sua fortuna, o escriptor severo e consciencioso não sacrificava ao ganho nem uma diminuta parcella da sua legitima gloria.

Os editores ajustavam pagar-lhe um livro por certa e determinada quantia, muitas vezes vantajosa para o orçamento do poeta, mas conhecendo-lhe a singularidade do caracter especificavam no contracto que o auctor só teria direito a receber um certo numero de provas, e que, excedido elle, as correcções seriam por sua conta.