Página:Contos e phantasias (Maria Amália Vaz de Carvalho, 1905).pdf/31

Wikisource, a biblioteca livre
CONTOS E PHANTASIAS
25

elle — o misero, o abandonado, o enfermo — que tivera o primeiro sorriso d’aquella boquinha de rosas, o primeiro beijo d’aquelles labios frescos e humidos de leite!

Era feio, era rachitico, era estupido e desastrado.

Todos o conheciam, todos o repetiam em alto e bom som para que elle o não ignorasse, mas ella amava-o; ella não o dizia, não o pensava, não o tinha notado sequer!

Para ella era forte, e grande, e poderoso!

A elle é que Margarida confiára sempre os seus desejos, os seus sonhos, os seus affectos de creança mimosa.

Ralhava-lhe ás vezes, batia-lhe, quando aspirava ao impossivel que Thadeu lhe não podia dar, mas as creanças ricas têm horas de tedio só comparaveis ás horas sinistras de um imperador romano, e Thadeu comprehendia isso tanto, que antes queria as coleras, do que os desalentos rapidos e violentissimos da sua perola.

Tudo que houvera bom na sua vida lhe tinha vindo d’ella.

Dos outros — nada!

E elle odiava todos os outros, só para poder adoral-a com um culto exclusivo de negro pelo seu fetiche.