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CONTOS E PHANTASIAS

N’este interior recolhido e casto, Thadeu sentiu pela primeira vez acordar a consciencia.

Soffria muito ali pelas comparações dolorosas que fazia, mas comprehendeu que n’esse mesmo soffrimento havia um progresso do seu espirito e affeiçoou-se ás torturas que elle lhe dava.

O trabalho era a lei d’aquella casa, e Thadeu não sabia trabalhar.

Ali concebia-se a vida de um modo elevado e justo, a dignidade do homem estava identificada com a sua independencia, e Thadeu não passava de um parasita.

Aprendeu na convivencia de Henrique e de sua mãe e irmã muito mais do que aprendêra em todos os 18 annos de sua desconsolada existencia.

Determinou ter uma occupação, um officio, exercer um trabalho qualquer, mas bem depressa adquirio a desoladora certeza de que a sua fraqueza physica o tornava incapaz de qualquer esforço aturado e violento.

Com vinte e tres annos conseguira tão sómente, por fim de porfiada lucta, ser uma especie de caixeiro de guarda-livros de seu tio.

Aprendeu a fazer bem contas, e tornou-se util n’aquella desordenada administração de uma casa collossal.

Isto não era de certo cousa que satisfizesse as