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CONTOS E PHANTASIAS

a marqueza animada pela placidez do marido ao encarar esta questão magna, declarou á filha, hoje seus unicos amores, que ia fazer tudo para lhe dar o noivo da sua alma, o escolhido pela sua ardente paixão juvenil.

Teve medo de ver a filha definhar-lhe e morrer-lhe nos braços. Via-a tão abatida, tão triste, tão enfastiada da vida, que a idéa de perdêl-a sobrelevou a todos os seus escrupulos de rica e de fidalga.

Margarida auctorisada pelos paes pôde dizer a Henrique, que o amava!

Quanto amor! que enthusiasmo febril n’este sublime impudor da creança opulenta, formosa, aristocratica, disputada por dezenas de noivos tão ricos e tão nobres como ella, que vem espontaneamente offerecer a sua mão e a sua vida inteira ao obscuro plebeu que passa confundido no meio das multidões desconhecidas!

E esse impudor ninguem mais fidalga e altivamente do que Margarida o soube ter.

Sabia-se adorada, estremecida, sabia que um riso d’ella bastaria para as alegrias e para as torturas de uma semana passada por Henrique na labutação da sua mesquinha existencia; mas sabia tambem que elle era tão grande, tão forte, tão orgulhoso e digno que podia morrer, mas que morreria