Página:Contos e phantasias (Maria Amália Vaz de Carvalho, 1905).pdf/56

Wikisource, a biblioteca livre
50
CONTOS E PHANTASIAS

se convertiam n’outras tantas graças, todas as suas exigencias se impunham com a tyrannia adoravel de uma supplica!

O marido tinha por Margarida aquella paixão deleteria e quasi covarde, que ella lhe inspirára logo no primeiro dia.

Não sabia resistir senão a muito custo, a um olhar d’aquelles olhos humidos e radiantes, a um sorriso d’aquelles labios vermelhos, a um gesto d’aquellas mãos finas, esguias, pallidas, da suave pallidez dos lyrios.

Não era bem amor, era uma fascinação, uma embriaguez, uma d’estas doenças que exercem no cerebro a sua acção paralysadora.

Margarida que nenhuma força superior tentava dominar, déra expansão completa a todos os caprichos da sua colorida e quente phantasia.

Adorava o luxo, as cousas d’arte, a musica, as flores raras, frequentava muito o alto mundo onde era requestadissima, vivia na perpetua idolatria de si propria, que a pouco e pouco a inutilisava para os graves deveres da vida.

Thadeu no meio da sua céga e embrutecedora adoração obedecia-lhe como um escravo. Só elle sabia as despezas collossaes, as extravagancias principescas d’aquella pequenina pessoa, activa, graciosa, phantasista como um poeta oriental.