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CONTOS E PHANTASIAS

XIV

 

— Deixe-se estar quieto. Não vê que não póde sahir d’este quarto senão á noite? pronunciou a voz enrouquecida de Thadeu.

E sem dar mais attenção ao seu odioso hospede, poz-se a arranjar papeis, uma trouxa de roupa, algumas velhas reliquias, os retratos dos seus dous pequeninos, dos seus netos como elle lhes chamava.

Depois despregou da parede as duas photographias de Henrique e de Margarida. A d’elle beijou-a, e guardou-a com as dos pequeninos. A d’ella... approximou-a d’uma vela que acendêra e deixou-a arder até que ficaram só cinzas. Estava medonhamente livido.

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Era noite: sentiu o rumor conhecido da hora de jantar, esperou que o criado viesse chamal-o e respondeu-lhe:

— Diga aos senhores que jantem. Eu hoje estou convidado fóra, não os posso acompanhar.

Olhou para o homem que alli estava na mudez estupida dos malvados, que são ridiculos, e disse-lhe:

— Venha d’ahi.

Sahiram juntos.

Thadeu nunca mais voltou; não pôde.