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CONTOS E PHANTASIAS
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todas as noutes ia ao reportorio, que tinha á cabeceira da cama, e pondo uma cruz no dia que findára, dizia jubiloso:

— É de menos um!

Na vespera da chegada do filho, era uma azafama, um revolver as velhas arcas de onde se exala um forte cheiro de maçãs camoezas, e um andar tudo n’uma poeira n’aquella casa.

— Esta cama não tem roupa bastante, Joanna, dizia para a creada; vá buscar mais um cobertor!

E alisava a colcha, endireitando a fronha da travesseirinha, e repetindo:

— O estudante é muito mimoso, e depois faz frio que não é brincadeira!

Ia á cosinha, era preciso comprar isto e mais aquillo. Examinava os armarios, passava revista aos frascos das compotas, e punha de banda as garrafas de vinho antigo.

— Não que elle gosta do que é bom!

Na rua não esperava que lhe perguntassem pelo filho:

— Chega ámanhã, chega ámanhã!

As ancias eram no dia da chegada. Vinha para a porta, esfregando as mãos, rutilante de prazer. Todo o pobre que passava tinha uma esmola, todo o transeunte um cumprimento benevolo e affavel.