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CONTOS E PHANTASIAS
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Era orphã de pae e mãe, era pobre, não tinha parentes a não ser um irmão que fôra para o Brazil, e de quem não havia noticias ha muito tempo; contava trinta e tantos annos, mas era madrugadôra como um gallo, direita como um vime, e valia por dous homens no amanho da vida.

Quando o tio Sebastião lhe fallou em casamento, ella fez-se vermelha como uma papoula, hesitou um momento, e atirando com a fouce com que andava a cegar fêno, lançou-se-lhe nos braços, e n’um amplexo formidavel de leôa, rompeu com isto:

— Esperava esta felicidade ha dez annos. Abrace-me, sô Sebastião, que se não fosse comsigo, não me casava senão com a cóva.

Vinha de longe o affecto d’esta mulher pelo bondoso homem.

O pae de Carlota cahiu entrevado; o tio Sebastião ao passar-lhe um dia á porta ouviu choros e lamentações; entrou e soube que havia alli necessidade e quasi fome; a filha unica do invalido, Carlota, tinha de ficar á cabeceira do catre; as ultimas economias haviam-se extinguido pouco a pouco.

O tio Sebastião soccorreu aquella gente, mandou chamar o medico a Villa Verde, pagou os remedios da botica e por fim o enterro do infeliz.

Entre as poucas pessoas que acompanharam á