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CONTOS E PHANTASIAS
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Rasgou alvoroçadamente o sobrescripto, leu e empallideceu horrivelmente.

— Meu querido pae! murmurou, e curvado sobre a sua mesa de estudo deixou cahir a cabeça nos punhos fechados. Pobre pae! pobre pae! que me não chegou a ver bacharel!

Na manhã do dia seguinte entrava por casa dentro, ao passo que descia as escadas o caixão em que vinha mettido o pae.

Quizeram-no affastar, esconder-lhe aquelle espectaculo lutuoso, mas elle resistiu, e abraçado ao cadaver do pae chorava como choram os que de repente sentem que o braço amoravel que os guiava n’esta vida enfraquece e esfria para sempre, deixando-os na mais desconsolada e algida das solidões.

Amparado nos braços de um amigo da infancia, entrou no aposento em que a irmã pallida e desfeita expedia gritos clamorosos e hystericos.

— Sósinha, repetia a misera, sósinha!

— E eu, minha querida Francisca? Não te lembraste do teu irmão? disse o moço engulindo as lagrimas, e fazendo-se forte para dar coragem á desgraçada menina.

Assim no alto mar quando o temporal arripia e ennovela as ondas, e o velame bate nos mastros com o ruido molhado das azas de uma ave que se