Página:Contos e phantasias (Maria Amália Vaz de Carvalho, 1905).pdf/90

Wikisource, a biblioteca livre
84
CONTOS E PHANTASIAS

afoga, e a marinhagem assustada grita e pragueja ante a morte proxima e inevitavel, o capitão que tem filhos e esposa, longe n’uma pequena aldeia á beira-mar, dá ordens com voz tranquilla, e commanda a manobra com a serenidade de quem vê perto as aguas quietas e espelhadas do ancoradouro.

Volvidos alguns dias, desceu o estudante ao escriptorio. Examinou as gavetas e os moveis, a vêr se o pae havia feito as suas ultimas disposições. Não encontrou senão minutas, autos, libellos em principio, considerações juridicas.

— Parece-me que o estou vendo! A ultima vez que o vi, estava aqui sentado e perguntou-me a rir se eu sabia o que era um libello! — disse o moço para a irmã, que o acompanhava. — Respondi-lhe, e elle tornou:

— Caspité! Pois olha, que quando deixei Coimbra não o sabia. A minha universidade foi esta banca. Aqui é que se aprende, deixa lá! E depois tu verás!

Mal sabia elle que eu nunca havia de vêr isso...

— E porque, Antonio?

— Porque? porque estamos pobrissimos. O pae