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CONTOS CARIOCAS


Quando á terceira vez lá se encontraram,
Os dois viuvos se cumprimentaram,
E á quarta vez falaram-se. Foi ella
Quem primeiro falou, porque queria
Que lhe indicasse o moço onde comprára
A pedra que cobria
A cova de Maria,
Pedra cuja bellesa lhe agradára.
— Encommendei-a a um marmorista sério,
Que mora mesmo em frente ao cemiterio,
Si vossa exc’lencia quer, eu vou... eu vejo...
— Perdão, senhor; apenas eu desejo
Que me apresente ao homem. — Nesse dia
Sahiu co’a viuva o viuvo de Maria,
Sem que os dois mortos vissem nem soubessem.

Como naufragos que, passado houvessem
Pelos mesmos perigos
Sobre a amplidão das aguas,
E ficassem amigos,
Elles, passando pelas mesmas magoas,
Os seus doridos corações juntaram.

Confidencias trocaram;
Todos os episodios
Da vida de ambos foram revelados,
Vida de namorados,
Vida toda de amores e sem odios.

Tambem ella tivera
Ephemera ventura, eternas penas