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Página:Contos em verso.djvu/197

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UM MEDICO DA ROÇA
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Mas como o pae do lado o houvesse posto,
E do sogro infeliz seccasse a tèta,
E doente nenhum fizesse gosto
Em recorrer á sua medicina,
Em breve Abrantes se apanhou sem chêta,
E passou existencia bem mofina.

Não tinha o pobre diabo
O que fazer da vida, e já pensava
Em della emfim dar cabo,
Quando um roceiro, que na côrte estava,
Propoz leval-o para certa villa
Ignorada e tranquilla
Onde faltava um medico; podia,
Se não fazer fortuna,
Pelo menos ganhar grossa maquia.

A proposta opportuna
Abrantes acceitou; foi para a roça,
Quinze annos respirou, num mundo a parte,
O oxygenio do matto, que remoça,
E, aprendendo a sua arte
No corpo dos escravos, nas fazendas,
Afinal ganhou fama
De haver feito umas curas estupendas,
Moribundos erguendo até da cama!
Regenerou-se. O ver constantemente
As molestias alheias,
Fez-lhe voltar o coração ausente,
Deu-lhe boas idéas;