Página:Contos fluminenses.djvu/163

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entrei na vida publica por vocação; entrei como se entra em uma sepultura: para dormir melhor. Porque o fiz? A razão é o drama de que me falla.

— Uma mulher, talvez.....

— Sim, uma mulher.

— Talvez mesmo, disse Estevão procurando sorrir, talvez uma esposa.

Menezes estremeceu e olhou para o amigo, espantado e desconfiado.

— Quem lh’o disse?

— Pergunto.

— Uma esposa, sim; mas não lhe direi mais nada. É a primeira pessoa que ouve tanta cousa de mim. Deixemos o passado que morreu: parce sepultis.

— Conforme, disse Estêvão; e se eu pertencer a uma seita philosofica que pretenda resuscitar os mortos, mesmo quando é um passado.....

— As suas palavras, ou querem dizer muito, ou nada. Qual é a sua intenção?

— A minha intenção não é resuscitar o passado unicamente; é reparal-o, é restaural-o em todo o seu esplendor, com toda a legitimidade do seu direito; o meu fim é dizer-lhe, meu caro amigo, que a mulher condemnada é uma mulher innocente.

Ouvindo estas palavras Menezes deu um pequeno grito.