Página:Contos fluminenses.djvu/180

Wikisource, a biblioteca livre

— Pois se é verdade isso que dizes, explica-nos lá que azas são essas, e sobretudo para onde é que queres voar.

A estas palavras de Vasconcellos, accrescentou Baptista:

— Sim, deves dar-nos uma explicação, e se nós que somos o teu conselho de familia, acharmos que a explicação é boa, approvamol-a; senão, ficas sem azas, e ficas sendo o que sempre foste...

— Apoiado, disse Vasconcellos.

— Pois é simples; estou creando azas de anjo, e quero voar para o céo do amor.

— Do amor! disserão os dous amigos de Gomes.

— É verdade, continuou Gomes. Que fui eu até hoje? Um verdadeiro estroina, um perfeito pandego, gastando ás mãos largas a minha fortuna e o meu coração. Mas isto é bastante para encher a vida? Parece que não...

— Até ahi concordo... isso não basta; é preciso que haja outra cousa; a diferença está na maneira de...

— É exacto, disse Vasconcellos; é exacto; é natural que vocês pensem de modo diverso, mas eu acho que tenho razão em dizer que sem o amor casto e puro a vida é um puro deserto.

Baptista deu um pulo...

Vasconcellos fitou os olhos em Gomes: